domingo, 8 de janeiro de 2012

UN LIBRO, UN VASO, NADA (José Manuel Caballero)

Todas las noches dejo
mi soledad entre los libros, abro
la puerta a los oráculos,
quemo mi alma con el fuego
del salmista.
Qué contraria
voluntad de peligros me desvela,
quiebra la vigilante
sed de vivir de mi palabra.
Todas las noches junto inútilmente
los residuos del día, recupero
las horas muertas de la indefensión,
consisto en lo que he sido.
(Una mano olvidada entre las sábanas
rompe papeles, incinera
los escombros del sueño).

Oh posesión sin nadie, ¿para qué
tantas páginas vanas, tantos
himnos vacíos? Mira
a tu alrededor, ¿qué queda?
Solos
estamos: toda la ausencia cabe
entre la realidad y el sueño. Aquí
mi obstinación es mi alegría:
un libro, un vaso, nada.



UM LIVRO, UM VASO, NADA (Tradução)

Todas as noites deixo
entre os livros a minha solidão,
abro a porta aos oráculos,
fundo a minha alma com o fogo
do salmista.
Que contrária
vontade de perigo me desvela,
quebra a vigilante
sede de viver da minha palavra.
Todas
as noites vivo inutilmente
a frustração do dia, recupero
as horas mortas da minha liberdade,
consisto no que fui.
(Mão esquecida entre os lençóis
rasga papéis, mancha o último
pedaço do meu sonho.)

Oh coração
sem ninguém – para quê
tantas páginas vãs, tantos
hinos vazios? Olha
em teu redor – que fica? Estamos
sós: toda
a vida cabe entre o calar
e o sonho. Aqui
a minha solidão é a minha alegria:
um livro, um vaso, um nada.

Tradução: Egito Gonçalves